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AudioBook: Poesias Completas by Machado de Assis
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POESIAS COMPLETAS
MACHADO DE ASSIS
DA ACADEMIA BRAZILEIRA
POESIAS COMPLETAS
CHRYSALIDAS, PHALENAS
AMERICANAS, OCCIDENTAES
H. GARNIER, LIVREIRO-EDITOR 71-73, RUA DO OUVIDOR, 71-73 RIO DE JANEIRO
6, RUE DES SAINTS-PÈRES, 6 PARIS
1901
ADVERTÊNCIA
Podia dizer, sem mentir, que me pediram a reunião de versos que andavam esparsos; mas, a verdade anterior é que era minha intenção dá-los um dia. Ao cuidar disto agora achei que seria melhor ligar o novo livro aos já publicados, Chrysalidas, Phalonas, Americanas. Chamo ao último Occidentaes.
Não direi de uns e de outros versos senão que os fiz com amor, e dos primeiros que os reli com saudades. Suprimo da primeira série algumas páginas; as restantes bastam para notar a diferença de idade e de composição. Suprimo também o prefácio de Caetano Filgueiras, que referiu as nossas reuniões diárias, quando já ele era advogado e casado, e nós outros apenas moços e adolescentes; menino chama-me ele. Todos se foram para a morte, ainda na flor da idade, e, excepto o nome de Casimiro de Abreu, nenhum se salvou.
Não deixo esse prefácio, porque a afeição do meu difunto amigo a tal extremo lhe cegara o juízo que não viria a ponto reproduzir aqui aquella saudação inicial. A recordação só teria valor para mim. Baste aos curiosos o encontro casual das datas, a daquele, 22 de Julho de 1864, e a deste.
Rio, 22 de Julho do 1900.
MACHADO DE ASSIS.
CHRYSALIDAS
1864
MUSA CONSOLATRIX
Que a mão do tempo e o halito dos homens Murchem a flor das ilusões da vida, Musa consoladora, E no teu seio amigo e sossegado Que o poeta respira o suave sono.
Não ha, não ha contigo. Nem dor aguda, nem sombrios ermos; Da tua voz os namorados cantos Enchem, povoam tudo De intima paz, de vida e de conforto.
Ante esta voz que as dores adormece, E muda o agudo espinho em flor cheirosa, Que vales tu, desilusão dos homens? Tu que podes, ó tempo. A alma triste do poeta sobrenada Á enchente das angustias, E, affrontando o rugido da tormenta, Passa cantando, alcyone divina.
Musa consoladora, Quando da minha fronte de mancebo A ultima ilusão cair, bem como Folha amarella e secca Que ao chão atira a viração do outono, Ah! no teu seio amigo Acolhe-me,--e haverá minha alma afflicta, Em vez de algumas ilusões que teve, A paz, o ultimo bem, ultimo e puro!
VISIO
Eras pallida. E os cabellos, Aereos, soltos novellos, Sobre as espaduas as cahiam... Os olhos meio-cerrados De volupia e de ternura Entre lagrimas luziam... E os braços entrelaçados, Como cingindo a ventura, Ao teu seio me cingiam...
Depois, naquelle delirio, Suave, doce martyrio De pouquissimos instantes, Os teus labios sequiosos, Frios, tremulos, trocavam Os beijos mais delirantes, E no supremo dos gozos Ante os anjos se casavam Nossas almas palpitantes...
Depois... depois a verdade, A fria realidade, A solidão, a tristeza; Daquelle sonho desperto, Olhei... silencio de morte Respirava a natureza-- Era a terra, era o deserto, Fôra-se o doce transporte, Restava a fria certeza.
Desfizera-se a mentira: Tudo aos meus olhos fugira: Tu e o teu olhar ardente, Labios tremulos e frios, O abraço longo e apertado, O beijo doce e vehemente; Restavam meus desvarios, E o incessante cuidado, E a phantasia doente.
E agora te vejo. E fria Tão outra estás da que eu via Naquelle sonho encantado! És outra, calma, discreta, Com o olhar indifferente, Tão outro do olhar sonhado, Que a minha alma de poeta Não vê se a imagem presente Foi a visão do passado.
Foi, sim, mas visão apenas; Daquellas visões amenas Que á mente dos infelizes Descem vivas e animadas, Cheias de luz e esperança E de celestes matizes; Mas, apenas dissipadas, Fica uma leve lembrança, Não ficam outras raizes.
Inda assim, embora sonho, Mas, sonho doce e risonho, Désse-me Deus que fingida Tivesse aquella ventura Noite por noite, hora a hora, No que me resta de vida, Que, já livre da amargura, Alma, que em dores me chora. Chorára de agradecida!
QUINZE ANNOS
Oh! la fleur de l'Eden, pourquoi l'as-tu fanée, Insouciant enfant, belle Eve aux blonds cheveux?
ALFRED DE MUSSET
Era uma pobre criança... --Pobre criança, se o eras!-- Entre as quinze primaveras De sua vida cançada Nem uma flor de esperança Abria a medo. Eram rosas Que a douda da esperdiçada Tão festivas, tão formosas, Desfolhava pelo chão. --Pobre criança, se o eras!-- Os carinhos mal gozados Eram por todos comprados, Que os affectos de sua alma Havia-os levado á feira, Onde vendera sem pena Até a illusão primeira Do seu doudo coração!
Pouco antes, a candura, Co'as brancas azas abertas, Em um berço de ventura A criança acalentava Na santa paz do Senhor; Para accordal-a era cedo, E a pobre ainda dormia Naquelle mudo segredo Que só abre o seio um dia Para dar entrada a amor.
Mas, por teu mal, acordaste! Junto do berço passou-te A festiva melodia Da seducção... e acordou-te! Colhendo as limpidas azas, O anjo que te velava Nas mãos tremulas e frias Fechou o rosto... chorava!
Tu, na sede dos amores, Colheste todas as flores Que nas orlas do caminho Foste encontrando ao passar; Por ellas, um só espinho Não te feriu... vás andando... Corre, criança, até quando Fores forçada a parar!
Então, desflorada a alma De tanta illusão, perdida Aquella primeira calma Do teu somno de pureza; Esfolhadas, uma a uma, Essas rosas de belleza Que se esvaem como a escuma Que a vaga cospe na praia E que por si se desfaz;
Então, quando nos teus olhos Uma lagrima buscares, E seccos, seccos de febre, Uma só não encontrares Das que em meio das angustias São um consolo e uma paz;
Então, quando o frio spectro Do abandono e da penuria Vier aos teus soffrimentos Juntar a ultima injuria: E que não vires ao lado Um rosto, um olhar amigo Daquelles que são agora Os desvellados comtigo;
Criança, verás o engano E o erro dos sonhos teus; E dirás,--então já tarde,-- Que por taes gozos não vale Deixar os braços de Deus.
STELLA
Já raro e mais escasso A noite arrasta o manto, E verte o ultimo pranto Por todo o vasto espaço.
Tibio clarão já córa A téla do horizonte, E já de sobre o monte Vem debruçar-se a aurora.
Á muda e torva irmã, Dormida de cansaço, Lá vem tomar o espaço A virgem da manhã.
Uma por uma, vão As pallidas estrellas, E vão, e vão com ellas Teus sonhos, coração.
Mas tu, que o devaneio Inspiras do poeta, Não vês que a vaga inquieta Abre-te o humido seio?
Vai. Radioso e ardente, Em breve o astro do dia, Rompendo a nevoa fria, Virá do roxo o
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