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AudioBook: A nossa Gente by Teixeira de Queiroz
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SANTA MARGARIDA
PRIMEIRA PARTE
I
Era adorável no berço pela sua tranquilidade feliz: esse primeiro ano de existência passou-o a mamar e a dormir, deixando de mamar para dormir, e interrompendo o dormir só para mamar. Nos curtos intervalos destas ocupações sérias mostrava pouca vivacidade de caráter: para tudo e para todos olhava com tal incompreensão, que se julgou que fosse doente, ou de somenos inteligência. Pouco mais do que a planta que vegeta apegada à terra, e que só estima a terra que a nutre; pois o único apego ou afeição manifestado neste primeiro período de vida, foi pela ama, a Antonia, mulher do caseiro, e desdenhava os afagos da mãe verdadeira, preferindo-lhe os daquela que a sustentava de leite. A boa criatura ufanava-se com isto e no íntimo julgava-se com melhor parte na maternidade de Margarida do que a própria D. Claudina, que a dera à luz. Este ciúme levou-a a dizer ao seu homem, que mais queria aquela menina do que ao seu Zé, cuja criação entregara a uma irmã, para tomar conta da filha dos patrões, como estava assente e ajustado que fosse, mesmo antes dos dois partos. E justificava-se:
— Pois se ela é tão minha amiga, que não pode estar um só instantinho sem mim!... Meu rico anjo!... Se acorda e me não vê, logo chora que é grande matação. Lá o meu rapaz era muito mais bravo e até ruim. Dava-me cada dentada!... Havia noites que eu não pregava olho por causa dele.
Assim correu o primeiro ano; mas quando se entrou no seguinte e pela volta dos catorze meses, começaram para a mísera Antonia noites difíceis e tormentosas com o rompimento das presas. Tudo que até aí fôra doçura de caráter, transformou-se em rabugem insuportável. Quantas dores não sofreria a pobre criança para chorar continuadamente, de dia e de noite, que nem se compreendia como tivesse fôlego para tanto!... A ama aguentava com heroicidade e lágrimas as mordeduras no peito, que chegavam a fazer-lhe sangue. Os médicos proibiram o desmame nesta grave crise, que foi tão violenta e alarmante, como qualquer perigosa moléstia. Esperava-se que isto passasse; decerto havia de passar e passou, depois de ter durado três longos meses, com a criança entre a vida e a morte. Não lhe faltaram com nenhuma coisa que pudesse minorar aquele sofrimento horrível: além dos médicos que vinham ambos todos os dias, foram requeridos os mais afamados e milagrosos santos da vizinhança; e consultadas as feiticeiras mais sérias, que predisseram com grande tino e sagacidade, sobre cueiros e camisinhas da inocente Margarida. Mas nesse período atroz dos três meses tudo parecera infructífero: as convulsões eram aterradoras, a febre continuada, o emagrecimento implacável! As honras da vitória, por fim, couberam a santa Margarida, padroeira da capela da casa, cujo valimento imploraram, adiantando-lhe uma iluminação de velas de cera em oito dias e oito noites contadas hora a hora. As primeiras reconhecidas melhoras declararam-se exatamente no fim deste espaço de tempo, e por tal motivo houve depois missa cantada em ação de graças e sermão, em que o padre José Pitança disse coisas maravilhosas acerca do incontestável milagre.
* * * * *
Passara o perigo e com ele todas as aflições naquela casa. A criança melhorou, entrando numa fase de saúde regular. Voltaram-lhe as belas cores do rosto. Acordou desta espécie de letargia com vivacidade irrequieta nos olhos e sinais de esperteza em todo o semblante, o que até ah
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