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AI Voice AudioBook: A Velhice do Padre Eterno by Abílio Manuel Guerra Junqueiro

AudioBook: A Velhice do Padre Eterno by Abílio Manuel Guerra Junqueiro

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A VELHICE DO PADRE ETERNO

Aos simples

Ó almas que viveis puras, imaculadas Na torre do luar da graça e da ilusão, Vós que ainda conservais, intactas, perfumadas, As rosas para nós há tanto desfolhadas Na aridez sepulcral do nosso coração;

Almas, filhas da luz das manhãs harmoniosas, Da luz que acorda o berço e que entreabre as rosas, Da luz, olhar de Deus, da luz, bênção d’amor, Que faz rir um nectário ao pé de cada abelha, E faz cantar um ninho ao pé de cada flor;

Almas, onde resplende, almas, onde se espelha A candura inocente e a bondade cristã, Como n’um céu d’Abril o arco da aliança, Como n’um lago azul a estrela da manhã;

Almas, urnas de fé, de caridade, e esperança, Vasos d’oiro contendo aberto um lírio santo, Um lírio imorredoiro, um lírio alabastrino, Que os anjos do Senhor vêm orvalhar com pranto, E a piedade florir com seu clarão divino;

Almas que atravessais o lodo da existência, Este lodo perverso, iníquo, envenenado, Levando sobre a fronte o esplendor da inocência, Calcando sob os pés o dragão do pecado;

Benditas sejais, vós, almas que esta alma adora, Almas cheias de paz, humildade e alegria, Para quem a consciência é o sol de toda a hora, Para quem a virtude é o pão de cada dia!

Sois como a luz que doura as trevas d’um monturo, Ficando sempre branca a sorrir e a cantar; E tudo quanto em mim há de belo ou de puro, —Desde a esmola que eu dou à prece que eu murmuro— É vosso: fostes vós o meu primeiro altar.

Lá da minha distante e encantadora infância, D’esse ninho d’amor e saudade sem fim, Chega-me ainda a vossa angelica fragrância Como uma harpa éolia a cantar à distância, Como um véu branco ao longe inda a acenar por mim!

Minha mãe, minha mãe! ai que saudade imensa, Do tempo em que ajoelhava, orando, ao pé de ti. Cahia mansa a noite; e andorinhas aos pares Cruzavam-se voando em torno dos seus lares, Suspensos do beiral da casa onde eu nasci.

Era a hora em que já sobre o feno das eiras Dormia quieto e manso o impávido lebréu. Vinham-nos das montanhas as canções das ceifeiras, Como a alma d’um justo, ia em triunfo ao céu!...

E, mãos postas, ao pé do altar do teu regaço, Vendo a lua subir, muda, alumiando o espaço, Eu balbuciava a minha infantil oração, Pedindo a Deus que está no azul do firmamento Que mandasse um alívio a cada sofrimento, Que mandasse uma estrela a cada escuridão.

Por todos eu orava e por todos pedia. Pelos mortos no horror da terra negra e fria, Por todas as paixões e por todas as mágoas... Pelos míseros que entre os uivos das procelas Vão em noite sem lua e n’um barco sem velas Errantes através do turbilhão das águas.

O meu coração puro, imaculado e santo Ia ao trono de Deus pedir, como ainda vai, Para toda a nudez um pano do seu manto, Para toda a miséria o orvalho do seu pranto E para todo o crime o seu perdão de Pai!...

A minha mãe faltou-me era eu pequenino, Mas da sua piedade o fulgor diamantino Ficou sempre abençoando a minha vida inteira Como junto d’um leão um sorriso divino, Como sobre uma forca um ramo d’oliveira!


Ó crentes, como vós, no íntimo do peito Abrigo a mesma crença e guardo o mesmo ideal. O horizonte é infinito e o olhar humano é estreito: Creio que Deus é eterno e que a alma é imortal.

Toda a alma é clarão e todo o corpo é lama. Quando a lama apodrece ainda o clarão cintila: Tira-se o corpo — e fica uma linga de chama… Tira-se a alma — e resta um fragmento d’argila.

E para onde vai esse clarão? Mistério… Não sei… Mas sei que sempre há-de arder e brilhar, Quer tivesse incendiado o crâneo de Tibério, Quer tivesse aureolado a fronte de Joana D’Arc.

Sim, creio que depois do derradeiro sono Haverá uma treva e haverá uma luz Para o vício que morre ovante sobre um trono, Para o santo que expira inerme n’uma cruz.

Tenho uma crença firme, uma crença robusta N’um Deus que há-de guardar por sua própria mão N’uma jaula de ferro a alma de Lucusta, N’um relicário d’oiro a alma de Platão.

Mas também acredito, embora isso vos peze, E me julgueis talvez o maior dos ateus, Que no universo inteiro há uma só diocese E uma só catedral com um só bispo — Deus.

E muito embora a vossa igreja se contriste E a excomunhão papal nos abrace e destrua, A análise é feroz como uma lança em riste E a verdade cruel como uma espada nua.

Cultos, religiões, bíblias, dogmas, assombros, São como a cinza vã que sepultou Pompeia. Exumemos a fé d’esse montão de escombros, Desentulhemos Deus d’essa aluvião de areia.

E um dia a humanidade inteira, oceano em calma, Haverá de fazer, na mesma aspiração reunida, Da razão e da fé os dois olhos da alma, Da verdade e da crença os dois polos da vida.

A crença é como o luar que nas trevas flutua; A razão é do céu o esplendido farol: Para a noite da morte é que Deus nos deu lua… Para o dia da vida é que Deus fez o sol.


Mas, ai e

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