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AudioBook: Neves de antanho by conde de António Maria José de Melo César e Meneses Sabugosa
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Neves de Antanho
Ignez Negra – Amores do Senhor D. Jorge – D. Brites de Lára – Um Romance na Côrte de D. João III – Desculpa de uns Amores – A Filha de Pedro Nunes – Soror Violante do Céu – D. Francisco Manoel de Mello – Antonia Rodrigues – Amor aos Livros – Ramalho Ortigão – Um Beija-mão de Anno Bom no Paço da Ajuda
Explicação Prévia
Entrando a entoar, com uma pontinha de melancolia, a célebre balada – Dames du temps jadis, o poeta François Villon, em sua linguagem docemente arcaica e ao leve desbotada, interroga, num estribilho famoso: – Où sont les neiges d’antan?
La Royne Blanche comme un lys, Qui chantait à voix de sirène, Berthe au grand pied, Biettris, Allix, Harembouges qui tint le Mayne, Et Jehanne la bonne Lorraine Que Angloys brulèrent à Rouen, Où sont-ils, Vierge, souveraine?... Mais où sont les neiges d’antan?
Já séculos antes deste poeta aulico do quinhentismo francês, o Rei Trovador D. Dinis, numa das suas cantigas de escárnio, empregara em bom português desse tempo o vocábulo antano.
E o nosso Jorge Ferreira de Vasconcellos, com menos graça, mas com vernácula autoridade, legitima, na sua Aulegraphia dizendo: – hûa hora de um bom acerto como o de Antanho – a expressiva locução, que tão de jeito me serve para designar, no livro que ides ler, as figuras ou as cousas, que se vão diluindo no passado, como neves derretidas pelo tempo.
A beleza fugidia das mulheres que seduziram, que dominaram, ou que a paixão venceu; os ciúmes que consumiram corações, hoje mortos, de heróis feitos cativos; as ilusões de sábios atraídos pela eterna esfinge; os trágicos destinos de Reis, de Príncipes, e grandes do mundo dominados pela fatalidade, ou arrastados pelas vozes de sereias perfídias, tudo aquilo que, em tempos que já lá vão, teve na história, na crónica, ou na lenda um momento de fulgurante existência, e que se vai apagando nos nevoeiros de Antanho, merece uma menção no rol das reminiscências, onde o cuidado piedoso do artista tenta cristalizar as cousas vagas e tenues, que se vaporizavam na atmosfera...
Por isso fixar, por um instante que seja, nas páginas de um livro, efêmero como este, os feições dos rostos que sorriram, ou das almas que palpitaram, e que a ação dos anos vai corroendo, tem para mim uma espécie de voluptuosidade, como a que acaricia o ânimo das crianças quando modelam estátuas feitas de neve que se derrete, ou edificam castelos construídos com areias que o vento espalha!
Neves e areias! – Embora movediças, inconsistentes, voláteis e transitórias como as velhas luas que os meses devoram, como as nuvens que se espreguiçam, como o fumo que se espalha no ar, e como as sombras que fogem pelo chão, são contudo elementos para recompor os capítulos das memórias de Antanho.
Mas por que Antanho?
Se a alguém causar estranheza este termo, ou o alcunhar de rebuscado, julgando que por afetação dou preferência a vocábulos desusados, desprezando a linguagem corrente e chã, breve corrigirá a acusação fazendo-me justiça.
Nunca manejei um dicionário em cata de palavras antiquadas para surpreender artificialmente a estupefação do leitor, nem recorri de fito feito à lição dos clássicos, no propósito de aparelhar uma frase com alfaias de molde a inculcar-me senhor dos arcanos da língua.
Adoro a simplicidade no dizer e a naturalidade no discurso. Os melhores autores são sempre, para mim em qualquer língua, os que escrevem com mais clareza. Foi com esses que se formou a gramática e se criou o gosto. Castilho – Garrett, Herculano – mestres de todos nós, depois de rumiarem a herança dos avoengos literários através da confusa sintaxe medieval, ou da labiríntica construção quinhentista, ou dos pretensiosos gongorismos dos humanistas, ou dos prolixos arrazoados do século XVIII, deram com a sua prosa castiça, ao nosso lindo idioma, a cristalina transparência, que tão bem se harmoniza com a sua aristocrática origem.
Se, porém, no decorrer da oração, pinga, do bico da minha pena um vocábulo de que se perdeu o uso, ou uma locução que, embora tocada da ferrugem do tempo, expressa significativamente a ideia, não me tolhe o receio de que me alcunhem de afetado, ou me acusem de calamistrar propositalmente os períodos. Deixo-o ficar.
Assim eu pudesse, com engenho e arte, trazer à minha prosa os termos, os vocábulos, as locuções, hoje perdidas, que tanta nobreza e lustro davam à linguagem portuguesa.
Assim eu soubesse usar com discreto artifício das riquezas, que nos legaram os bons doutores da palavra escrita!
Quem lograsse hoje pôr ao serviço de ideias modernas a ferramenta com que trabalharam os Barros, os Coutos, Manuel Bernardes ou Francisco Manuel de Mello, quem conseguisse dar aos pomposos processos do classicismo novas articulações, e a flexibilidade que torna a frase dúctil e lhe dá graça, teria criado a forma mais elegante do verbo humano.
Já um sábio conspícuo preconizava, como a melhor receita para nos desfazermos do ranço dos estrangeirismos, que tanto têm contribuído para a nossa desnacionalização...
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