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AI Voice AudioBook: Contos para a infância by Abílio Manuel Guerra Junqueiro

AudioBook: Contos para a infância by Abílio Manuel Guerra Junqueiro

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A Mãe

Estava uma mãe muito aflita, sentada ao pé do berço do seu filho, com medo que lhe morresse. A criancinha pálida tinha os olhos fechados. Respirava com dificuldade, e às vezes tão profundamente, que parecia gemer; mas a mãe causava ainda mais pena do que o pequenino moribundo.

Nisto bateram à porta, e entrou um pobre homem muito velho, embuçado numa manta de arrieiro. Era no inverno. Lá fora estava tudo coberto de neve e de gelo, e o vento cortava como uma navalha.

O pobre homem tremia de frio; a criança adormecera por alguns instantes, e a mãe levantou-se a pôr ao lume uma caneca com cerveja. O velho começou a embalar a criança, e a mãe, pegando numa cadeira, sentou-se ao lado dele. E contemplando o seu filhinho doente, que respirava cada vez com mais dificuldade, pegou-lhe na mãosinha descarnada e disse para o velho:

-- Oh! Nosso Senhor não m’o há de levar! Não é verdade?

E o velho, que era a Morte, meneou a cabeça de uma maneira estranha, em ar de dúvida. A mãe deixou pender a fronte para o chão, e as lágrimas corriam-lhe em fio pela cara. Sentiu-se tonta com um grande peso de cabeça; estava sem dormir havia três dias e três noites. Passou ligeiramente pelo sono, durante um minuto, e despertou sobressaltada a tremer de frio.

-- Que é isto! exclamou, lançando à volta de si o olhar alucinado. O berço estava vazio. O velho tinha-se ido embora, roubando-lhe a criança.


A pobre mãe saiu precipitadamente, gritando pelo filho. Encontrou uma mulher sentada no meio da neve, vestida de luto. «A Morte entrou-te em casa», disse-lhe ela. «Vi-a sair a correr levando teu filho. Anda mais depressa que o vento, e o que ela furta nunca o torna a entregar.»

-- Por onde foi ela? gritou a mãe. Dize-mo pelo amor de Deus!

-- Sei o caminho por onde ela foi», respondeu a mulher vestida de preto. «Mas só t’o ensino, se me cantares primeiro todas as canções que cantavas ao teu filho. São lindas, e tens uma voz harmoniosa. Eu sou a Noite e muitas vezes t’as ouvi cantar, debulhada em lágrimas.»

-- Cantar-t’as-hei todas, todas, mas logo», disse a mãe. «Agora não me demores, porque quero encontrar o meu filho.»

A Noite ficou silenciosa. A mãe então, desfeita em lágrimas, começou a cantar. Cantou muitas canções, mas as lágrimas foram mais do que as palavras.

No fim disse-lhe a Noite: «Toma à direita, pela floresta escura de pinheiros. Foi por aí que a Morte fugiu com o teu filho.»

A mãe correu para a floresta; mas no meio dividia-se o caminho, e não sabia que direção havia de seguir. Diante dela havia um matagal, cheio de silvas, sem folhas nem flores, de cujos ramos pendia a neve cristalizada.


-- Não viste a Morte que levava o meu filho?» perguntou-lhe a mãe.

-- Vi», respondeu o matagal, «mas não te ensino o caminho, senão com a condição de me aqueceres no teu seio, porque estou gelado.»

E a mãe estreitou o matagal contra o coração; os espinhos dilaceraram-lhe o peito, de onde corria sangue. Mas o matagal vestiu-se de folhas frescas e verdejantes, e cobriu-se de flores numa noite de inverno frigidíssima, tal é o calor febril do seio de uma mãe angustiosa.

E o matagal ensinou-lhe o caminho que devia seguir. Foi andando, andando, até que chegou à margem de um grande lago, onde não havia nem barcos, nem navios. Não estava suficientemente gelado para se andar por ele, e era demasiado profundo para o passar a vau. Contudo, querendo encontrar o seu filho, era necessário atravessá-lo. No delírio do seu amor, atirou-se de bruços a ver se poderia beber toda a água do lago. Era impossível, mas lembrava-se que Deus, por compaixão, faria talvez um milagre.

-- Não! Não és capaz de me esgotar», disse o lago. «Sossega, e entendamo-nos amigavelmente. Gosto de ver pérolas no fundo das minhas águas, e os teus olhos são de um brilho mais suave do que as pérolas mais ricas que eu tenho possuído. Se queres, arranca-os das órbitas à força de chorar, e levar-te-ei à estufa grandiosa, que está do outro lado: essa estufa é a habitação da Morte; e as flores e as árvores que estão lá dentro, é ela quem as cultiva; cada flor e cada árvore é a vida de uma criatura humana.»

-- Oh! O que não darei eu, para reaver o meu filho!» disse a mãe. E apesar de ter já chorado tantas lágrimas, chorou com mais amargura do que nunca, e os seus olhos destacaram-se das órbitas e caíram no fundo do lago, transformando-se em duas pérolas, como ainda as não teve no mundo uma rainha.

O lago então ergueu-a, e com um movimento de ondulação depositou-a na outra margem, aonde havia um maravilhoso edifício, com mais de uma légua de comprido. De longe não se sabia se era uma construção artística ou uma montanha com grutas e florestas. Mas a pobre mãe não podia ver nada; tinha dado os seus olhos.

-- Como heide eu reconhecer a Morte que me roubou o meu filho!» bradou ela desesperada.

-- A Morte ainda não chegou», respondeu-lhe uma boa velha, que andava de um lado para o outro, inspecionando a estufa e cuidando das plantas. «Como vieste tu aqui parar? Quem te ensinou o caminho?»

-- Deus auxiliou-me», respondeu ela. «Deus é misericordioso. Compadece-te de mim, e dize-me onde está o meu filho.»

-- Eu não o conheço, e tu és cega», disse a velha. «Há aqui muitas plantas e muitas árvores, que murcharam esta noite: a Morte não tarda aí para as tirar da estufa. Deves saber, que toda a criatura humana tem neste sítio uma árvore ou uma flor, que representam a sua vida e que morrem com ela. Parecem plantas como quaisquer outras, mas tocando-lhes, sente-se bater um coração. Guia-te por isto, e talvez reconheças as pulsações do coração de teu filho. E que davas tu por eu te ensinar o que tens ainda de fazer?»

-- Já não tenho nada que te dar», disse a pobre mãe. «Mas irei até ao fim do mundo buscar o que tu quiseres.»

-- Fora daqui não preciso de nada», respondeu a velha. «Dá-me os teus longos cabelos negros; tu sabes que são belos, e agradam-me. Trocarei-os pelos meus cabelos brancos.»

-- Não pedes mais nada do que isso?» disse a mãe. «Aí os tens, dou-tos de boa vontade.»

E arrancou os seus magníficos cabelos, que tinham sido outrora o seu orgulho de rapariga, recebendo em troca os cabelos curtos e inteiramente brancos da velha.

Esta l

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